sexta-feira, 12 de junho de 2009

ÁLBUMporBETHnéspoli


" Também ontem, à tarde, vi no Fringe uma montagem de Álbum de Família, de Nelson Rodrigues, do grupo Minotauro, de Salvador, dirigida por Paulo Henrique Alcântara. Destaca-se da média dos espetáculos dessa mostra não por um resultado excepcional, mas por ser uma realização de quem claramente domina a linguagem teatral, a construção de uma poética cênica. Não é um mero levantamento do texto. Há um pensamento por trás, um motivo para fazer, um desejo de sublinhar aspectos. Nelson dizia, não lembro exatamente com que palavras, que basta um sopro para o homem cair de quatro. Essa é a ideia sobre a qual a encenação se baseia, dessa família que vive na fronteira entre selva e civilização. Pode parecer óbvio, é a primeira leitura, mas foi compreendida e recriada cenicamente. O cenário não é mera decoração, baús e paredes que remetem a ossários 'guardam' memórias familiares, e ancestrais. Assim como os figurinos buscam significar e não apenas vestir. Mas qualidade e problema vêm juntos, na ênfase excessiva, na falta de sutileza. A relação incestuosa - comum na natureza, interdita pela civilização - é reforçada in extremis. Nonô, nu, nessa encenação é o que Nelson chamaria do selvagem absoluto, sujo, cabelos longos e desgrenhados, urrando como animal durante um tempo excessivo. A favor do espetáculo não estar impregnado do amadorismo, no sentido da precariedade, que aparece em tantas, tantas e tantas peças do Fringe.”...

Por Beth Néspoli – em 22.03.2009 - Festival de Curitiba 2009

(Jornalista e crítica de teatro do Caderno 2 do Estado de S. Paulo)

No site : http://blog.estadao.com.br/blog/arteelazertemporeal/?catsel%5B%5D=1038

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