Rodrigo é uma das pessoas que mais amo no mundo. Meu amigo, daqueles tão raros de achar por aí, que dizem as mais cortantes verdades e que nos afagam sem que precisemos dizer nossas necessidades.
Rodrigo é o pai do trabalho mais importante que fiz na vida. A minha peça de formatura, Salomé, de Oscar Wilde. Em Janeiro de 2008, quando eu ainda tentava me livrar de escombros e ruínas da última hecatombe da minha existência, ele estava lá, aliás bem antes disso, segurando minha mão e me impulsionando pra frente, lançando sua ácida alegria que nos permite voltar para a realidade mais sábios. Foi naquele mês que sua tenacidade me fez aceitar o inevitável, mariposa que eu era, abracei meu destino e lancei-me à luz mascarada de trevas.
Entre Janeiro e Março daquele ano vislumbramos o banquete, o metal, a seda, as cores da danação. Seduzimos, juntos, todos os membros da corte, mesmo seu rei, sua rainha e principalmente, sua princesa-prisioneira. E em todos os momentos, ele nunca se permitiu ter sequer uma gota a menos de intensidade. Rodrigo é um daqueles do reino dos cabelos dourados e coração de leão, que unem com precisão coragem e generosidade. Rodrigo é meu amigo.
E ontem, Rodrigo ganhou um prêmio. O prêmio Braskem Revelação pelo cenário de 4 espetáculos, dentre eles, Salomé, de Oscar Wilde. Difícil escrever algo depois disso sem parecer piegas ou clichê. Dizer que estou feliz? Que ele merece pela competência, inventividade e beleza de cada um de seus trabalhos? Que o prêmio verdadeiro quem ganha são seus amigos? Tudo isso é verdade. Mas o que senti naquele momento, e o que sinto, não pode ser verdadeiramente descrito em palavras, nossa cumplicidade é expressa em cada abraço, em cada olhar.
Prefiro apenas rir discaradamente de cada besteira que ele diz, de lembrar de seus pés sujos e seus inusitados momentos de escovar os dentes. De suas não-dormidas noites, de seus cigarros mentolados, de seu mal compreendido romantismo, de sua Madonna de bigode.
Mas abraçando Rodrigo eu abraço Salomé, abraço meus-nossos sonhos, abraço todos os que sabem que serão abraçados, abraço e bendigo o teatro e os encontros mágicos e lindos que esse caminho de tijolos amarelos nos permite.
Tenho a impressão que por mais que eu continue essa escrita, nunca estarei satisfeita em colocar um ponto final. Porque acredito que a amizade pode ser medida pela quantidade de lembranças doces que colecionamos, e no caso de Rodrigo, parece que essa medição é um poço sem fundo.
POSTADO NO BLOG DE AMANDA - CALEIDOSCÓPIO DO ÉDEN - 15 DE ABRIL DE 2009
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