Quero hoje uma música, qualquer que seja, que fale de amor, pode ser um bolero baixo...rasgado... fim de relação... ou uma bossa nova... velha para mim... mas tem que falar de amor... de perda.
Para quando eu te ver amanhã, poder olhar dentro dos teus olhos e vomitar todo o desespero de Norma Jeane ou outra loira qualquer que se mata numa piscina... num filme qualquer... de preferência de baixíssimo orçamento. Porque amanhã vou sentar na tua frente com a boca seca de quem fumou todos os cigarros possíveis, e não vou conseguir dizer nada... tentando te comover com meu silêncio mudo... olhando no teu rosto sólido de certezas, com tua boca torta do sexo de hoje de madrugada, o resto de gozo seco no pescoço e quem sabe uma marca no queixo?... um toque final! Uma estocada perfeita de quem sempre lutou esgrima...
Mas vou comer com você, ao seu lado, falar banalidades, te fazer companhia, enquanto meu corpo digere a si próprio... com o simples desejo de almoçar você e ainda sentir fome... fome de séculos... ancestral.
Vamos usar o silêncio para ferir, pois só conhecemos disso agora... irei baixar a cabeça... com a fome ainda insaciável... esperar seus lábios dizerem algo... qualquer coisa....será um “não” com gosto de chocolate meio amargo para ti... e para mim... ah... para mim... sempre o gosto do vômito.. do refluxo...
Irá levantar com suas próprias pernas... e vai dizer “bye”... tenho uma reunião qualquer...e eu direi:
- vou ficar mais um pouco... quero pensar!
Vai embora você, depois de pagar a conta... eu fico... com a conta paga...o garçom talvez venha... e se vier eu não deixarei ele recolher as sobras da sua comida...
-Quero levar para casa! Tem um pratinho? Uma quentinha?
Não vai entender ele... nunca amou ninguém... que feliz!
Espero... espero... espero... ele traz um saco plástico... aceito! recolho o que sobrou e vou para casa.
Chego!.. retiro cuidadosamente as suas sobras coloco num belo prato grande de vidro verde ... que vou cobrir!.. talvez regue com azeite para apurar o gosto.
É sim! Vou comer o resto com gosto da tua saliva... da do teu homem... da do teu outro homem... do outro-outro homem, e de quantos mais restos de salivas de homens resistirem na tua boca.
Vou comer em paz... triste...
Vou chorar em paz em fim...
Para amanhã procurar de novo outros resto teus para matar a minha fome.
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